Monday, December 19, 2005

O filme - Uma Última Ceia no Rossio

Portugal, Açores, Ilha Terceira, 16 de Março de 2003.







Tudo começou com aquele encontro...





... e, dois dias depois, a 18 de Março de 2003, o anúncio do ultimato.



No fim-de-semana que se seguiu, a 22, quando já se morria em Bagdad, uns quantos foram para a avenida da suposta liberdade gritar o seu "Não à Guerra" da praxe.



Aquela "manif", no fundo, só serviu para que eles, pobres coitados, aliviassem a sua consciência, pois há muito que eram culpados de terem perdido a memória...




Se tivessem mantido a memória, saberiam ver que, no fim da manifestação, houve esta última ceia no Rossio...



Onde estava este...



... o mesmo que, a 24 de Janeiro de 1987, então como sub-director do semanário "Expresso", escrevera na revista uma poderosa crónica a exigir um inquérito parlamentar ao tráfico de armas norte-americanas de Portugal durante a guerra Irão-Iraque, um caso mundialmente conhecido como "Iran-Contra" ou "Irangate"...



O inquérito ao "Portugate" até viria a ser aprovado dois meses depois na Assembleia da República, em Março de 1987, mas nunca chegou a funcionar... e foi esquecido...

Recorde-se como foi que perdemos a memória... como perdemos a Democracia...

A 24 de Janeiro de 1987, a revista do "Expresso" publicou uma extensa reportagem sobre...


..."Os Mistérios de Lisboa".

Na sua crónica de abertura da revista, o autor disse que, aos olhos da imprensa norte-americana, Portugal era visto como uma "república das bananas".



E, mais à frente...



... queixava-se de que, "para maior humilhação nossa, a própria Guatemala abriria um inquérito às falsas exportações de armas portuguesas para aquele país - e de facto desviadas para os 'contras' nicaraguenses". Terminava o texto com umas belas palavras sobre a soberania nacional e os nossos políticos:





Foi uma reportagem histórica.



E, reconheça-se, uma reportagem ousada, pois colocava em causa as mais altas figuras do Estado. Sobretudo um Presidente da República que até há pouco tempo havia sido o primeiro-ministro socialista de um governo de coligação com os sociais-democratas. "Um governo que negociou em segredo", conforme se escreveu então numa legenda.



Voltando ao dia 22 de Março de 2003, e a essa última ceia no Rossio...



Podemos ver que, no fim da "manif", o antigo primeiro-ministro socialista, o mesmo que "negociou em segredo", partilhava a mesa com o autor da crónica "Portugate". Os tempos mudaram, pois já nenhum dos manifestantes que andavam ali às voltas pareciam lembrar-se daqueles anos 80.



Foi na altura em que aquele primeiro-ministro socialista, por exemplo, recebeu em Portugal o presidente dos EUA, no início de 1985...



Um presidente dos EUA que, dois anos depois, em 1987, iria enfrentar o "Irangate". E aqueles que ainda conservam alguma memória, recordam-se certamente de um militar norte-americano chamado Oliver North.



Sobre este mesmo Oliver North, lembro o livro de um antigo membro do partido socialista que foi editado em 1996...



...onde a dada altura o autor fala de um avião israelita carregado de mísseis a caminho de Lisboa.





O autor daquele livro referiu uma determinada página de um livro de Oliver North. Página 26...



... deste livro lançado em 1991.



Na página 26, Oliver North explica que o seu envolvimento no caso "Irangate" começou a 17 de Novembro de 1985. Nesse dia recebeu uma chamada telefónica do então ministro da Defesa de Israel, Yitzhak Rabin, a queixar-se do facto de um avião israelita com mísseis para o Irão não ter sido autorizado a usar um aeroporto "europeu" no qual o material deveria ter sido tranferido para outro avião.



Esse aeroporto "europeu" era o aeroporto de Lisboa e o impasse prolongou-se até ao dia 23 de Novembro de 1985. Mas, diga-se de passagem, essa informação até já não era um segredo quando Oliver North a escreveu no livro, em 1991. A 31 de Janeiro de 1987, uma semana após a edição da reportagem sobre "Os Mistérios de Lisboa", o semanário "Expresso" publicou esta manchete:



Para reforçar mais esta certeza, veja-se ainda este livro editado em 1997 da autoria do antigo chefe da CIA na Europa e outra personagem directamente envolvida na questão, Duane Clarridge:








O primeiro-ministro português que, em Novembro de 1985, recusou a operação de transferência de armas israelitas em Lisboa para um avião que as deveria depois levar até ao Irão e, que, aparentemente, seria algo habitualmente aceite pelo seu antecessor - o primeiro-ministro socialista-, é social-democrata e é ainda o autor deste outro livro:



Agora, será que o avião não aterrou em Lisboa por causa do nevoeiro que fechou o aeroporto a 22 de Novembro de 1985?



Não parece que aquele primeiro-ministro social-democrata tenha tido depois problemas com os norte-americanos. Basta ver que a sua obra autobiográfica está repleta de fotos de memórias dos anos seguintes à recusa do uso do aeroporto de Lisboa. Como esta, onde, em Março de 1986, cumprimenta em S. Bento o vice-presidente dos EUA e antigo chefe da CIA, George H. Bush, pai do presidente dos EUA que esteve naquele encontro nos Açores do início deste filme...



E ainda há mais fotos de recordações da sua visita aos EUA, meses depois, em Setembro de 1986...











Seis meses após aquela visita aos EUA, a 17 de Janeiro de 1987, o diário norte-americano "Washington Post" avançou com a notícia de que a capital do país daquele primeiro-ministro social-democrata fora utilizada para negócios de armas.





E, dois dias depois, a revista "TIME", fazia esta capa sobre os obscuros traficantes de armas:



No artigo ficava-se a saber que um desses traficantes de armas chamava-se Manucher Ghorbanifar.



De acordo com os documentos mais tarde divulgados publicamente e que resultaram da comissão de inquérito nos EUA ao caso "Irangate"...



... vemos que existe um relatório da CIA sobre este traficante de armas onde estava registado o facto de que Ghorbanifar era portador de um passaporte português em nome de "Manuel Pereira", datado de 3 de Outubro de 1980.



Outubro de 1980 foi um mês muito interessante...
Faltava um mês para as eleições nos EUA e, como sempre acontece nesse mês, teme-se que algo espectacular aconteça de modo a decidir o sentido de voto dos eleitores. É a chamada "October Surprise" - a Surpresa de Outubro. O presidente dos EUA era Jimmy Carter, do partido Democrático, que tentava a reeleição contra os candidatos do partido Republicano, Ronald Reagan e George Bush. Só que Jimmy Carter, como se sabe, acabou por perder as eleições do dia 4 de Novembro de 1980.
Anos mais tarde, em Abril de 1989, Barbara Honegger, uma colaboradora da campanha eleitoral de Reagan e Bush, publicou este outro livro:



Na sua obra, Barbara Honegger aborda uma polémica questão relacionada com aquilo que ficou conhecido como "A crise dos reféns do Irão". A 4 de Novembro de 1979, exactamente um ano antes das eleições presidenciais nos EUA, a embaixada dos EUA em Teerão foi tomada de assalto por jovens estudantes que fizeram 52 reféns norte-americanos.





O presidente dos EUA, Jimmy Carter, tinha uma missão a cumprir até ao dia das eleições onde iria lutar pela sua reeleição: libertar os reféns no Irão.
Contudo, uma operação militar, em Abril de 1980, fracassou de uma forma humilhante para os EUA.
Foi a operação "Desert One"... A imagem de Jimmy Carter estava cada vez mais fragilizada à medida que se aproximava o dia das eleições.
Carter conseguiu que fosse decretado um embargo internacional de venda de armas ao Irão e, em Setembro de 1980, teve início a guerra Irão-Iraque.



Os dias de cativeiro dos reféns prolongavam-se e o moral do povo norte-americano andava em baixo. Toda a nação sentia-se captiva do Irão... No dia das eleições presidenciais, 365 dias após o início do cativeiro, Jimmy Carter não resistiu e perdeu as eleições para os republicanos.



Os reféns foram libertados poucos minutos após o juramento presidencial de Ronald Reagan, a 20 de Janeiro de 1981...



Desde essa altura que se lançou uma dúvida entre a classe política de Washington: será que a campanha de Reagan e Bush negociou secretamente com o Irão a NÃO libertação dos reféns de modo a enfraquecer as hipóteses de vitória de Jimmy Carter? Uma resposta afirmativa a esta pergunta colocaria em causa o sistema democrático norte-americano...



Vinte cinco anos mais tarde, o jornalista Mark Bowden (o autor do livro "Black Hawk Down" que depois foi adaptado ao cinema) fez uma reportagem no Irão sobre a crise dos reféns.



E, a dada altura, fala sobre o facto de haver pessoas no Irão que ainda hoje estão convencidas de que a CIA teria estado por detrás do assalto...



George Bush, o homem que foi eleito vice-presidente dos EUA em 1980, tinha sido chefe da CIA entre 1976 e 1977, altura em que foi demitido por... Jimmy Carter. E William Casey, o chefe da campanha republicana de 1980, foi depois nomeado director da CIA... Sendo assim, dentro da CIA era natural que houvesse muita gente que não queria continuar com Jimmy Carter como presidente dos EUA. E, já se sabe, os serviços secretos são "O Governo dentro do Governo".



De acordo com algumas informações que vieram a público ao longo dos últimos anos (mas que sempre foram encaradas com o estigma da "teoria da conspiração" e nunca foram cabalmente esclarecidas), calcula-se que poderá ter havido uma negociação secreta em Paris, entre os dias 18 e 20 de Outubro de 1980, onde alguns elementos da campanha eleitoral republicana (e possivelmente o próprio George H. Bush) se encontraram com enviados iranianos precisamente para negociarem a não libertação dos reféns norte-americanos antes das eleições de Novembro. O Irão, desde Setembro de 1980, precisava desesperadamente de armas para lutar contra o Iraque de Saddam Hussein. E, nessa reunião em Paris, supostamente também esteve Manucher Ghorbanifar, o "Manuel Pereira" portador de passaporte português com data de 3 de Outubro de 1980...





in "October Suprise" - Barbara Honegger.

No dia 11 de Novembro de 1980, cerca de um mês após aquela suposta negociação secreta em Paris, e perto de 15 dias depois das eleições presidenciais nos EUA, mas ainda antes da tomada de posse dos novos ocupantes da Casa Branca e posterior libertação dos reféns do Irão, o diário português "Portugal Hoje", um jornal que então era propriedade do Partido Socialista (que estava na Oposição, uma vez que era primeiro-ministro de Portugal o social-democrata Francisco Sá Carneiro), publicou esta manchete:



A acusação de que Portugal poderia estar a vender armas para o Irão era apenas uma hipótese. Havia um embargo internacional decretado e Portugal deveria cumprir essa directiva. Se realmente havia passagem de armas ilegais para o Irão, isso provocaria um escândalo de alcance internacional, pois poderia levar a questão até aos EUA e investigar a provável implicação de membros da campanha republicana em negócios de diplomacia paralela.
Um crime de traição à pátria, punível com prisão...
O diário "Portugal Hoje", no entanto, não fazia afirmações.
Apenas colocava perguntas. Aquilo não era jornalismo de investigação, mas sim um partido político a autorizar uma peça jornalística de "instigação"...





A venda de armas portuguesas para o Irão foram desmentidas nesse mesmo dia através de um comunicado conjunto do ministro da Defesa e ministro dos Negócios Estrangeiros da altura, respectivamente, Adelino Amaro da Costa e Diogo Freitas do Amaral (o actual ministro dos Negócios Estrangeiros do actual governo socialista).



Dias depois daquela manchete do "Portugal Hoje", a 15 de Novembro, o semanário "Expresso", então dirigido por Marcelo Rebelo de Sousa (actual comentador político na televisão do Estado), publicou este "desmentido" na primeira página:



Naquela mesma semana, entre 14 e 16 de Novembro de 1980, Portugal recebeu a visita de uma conhecida personalidade norte-americana: o antigo secretário de Estado de Richard Nixon, Henry Kissinger. Apesar de já não desempenhar qualquer papel público, Kissinger foi recebido ao mais alto nível...







Após aquelas notícias sobre a venda de armas de Portugal ao Irão, e poucos dias depois da visita de Kissinger ao nosso país, a 4 de Dezembro de 1980, aconteceu...


... Camarate.

Alguns defendem que foi colocado uma bomba a bordo do avião onde viajavam o primeiro-ministro Sá Carneiro e o ministro da Defesa Amaro da Costa...










... outro defendem que foi um acidente. Toda a confusão entre as discussões de acidente ou atentado, no fundo, só serviu para não se falar na questão da venda de armas para o Irão no quadro do embargo que poderia ajudar Reagan e Bush a roubar as eleições a Jimmy Carter. Com o passar dos anos houve tímidas aproximações...


"Visão" - 13 de Julho de 1995

... que não passaram de aproximações, uma vez que ninguém quis escrever que qualquer investigação de Adelino Amaro da Costa em 1980 iria destapar um negócio proibido de vendas de armas para o Irão e como isso iria colocar em perigo a democracia norte-americana. Até que, a 24 de Julho de 2002, um dito antigo agente da CIA, Oswald Le Winter, foi testemunhar perante a VIII Comissão de Inquérito Parlamentar de Camarate e apontou o dedo directamente a Portugal nesse negócio e explicou que Kissinger não gostava de Sá Carneiro...



Logo de imediato, um "jornalista" achou que deveria escrever algo sobre Le Winter...





O "jornalista" perguntou como seria possível Kissinger estar metido no negócio, colocando assim em causa o testemunho de Le Winter.



Esse "jornalista" achou que não seria útil lembrar aos seus leitores que Henry Kissinger esteve em Portugal dias antes de Camarate e, como já vimos, teve encontros ao mais alto nível. Qualquer aluno de relações internacionais sabe bem que quando Kissinger aparece, as coisas acontecem... e isso independentemente de estar ou não em funções oficiais de assuntos de Estado.





O mesmo "jornalista" calou-se quando, já uns anos depois, a 5 de Dezembro de 2005, a Assembleia da República publicou o relatório final onde, através de uma outra fonte que não Le Winter, confirmou-se a importância da missão que Henry Kissinger viera fazer a Portugal em Novembro de 1980...





E o mesmo "jornalista" também nunca fez qualquer comentário sobre as notícias contraditórias publicadas dias antes da morte dos dois governantes...


Será que Iraque ou será que Irão?!


De tudo isto intuía eu no fim daquela triste e inútil "manif" do dia 22 de Março de 2003...




Eu sabia como tinha ele chegado ali... Eu sabia quem era a sua família e quem eram os amigos em Portugal...




Nem todos se lembravam e não sabiam o que significava aquela última ceia no Rossio.



Foi nessa altura que decidi que era útil escrever um livro para lembrar certos factos.



E durante a investigação que fiz, descobri como este comensal...



... ajudou estes dois amigos.



E como este outro comensal...



...foi bastante útil.




Poucos dias após aquela reportagem sobre os mistérios de Lisboa, houve um debate na Assembleia da República.
O Partido Comunista queria que o negócio do "Portugate" fosse investigado.
Perguntava-se, por exemplo, o que se passou durante a visita do primeiro-ministro social-democrata aos EUA, meses antes, em Setembro de 1986... Que conversas teve ele com William Casey, chefe da CIA?





Um primeiro-ministro social-democrata, recorde-se, que diz estar bastante próximo do antigo chefe da CIA que então era vice-presidente dos EUA (e que depois viria ainda a ser presidente dos EUA e pai do actual presidente dos EUA).



O governo social-democrata, que ainda estava em minoria, defendia-se e dizia que o caso era um problema norte-americano e não português...



Recorde-se ainda que aquele que fora o primeiro-ministro socialista num governo de coligação com os sociais-democratas, o líder "de um governo que negociou em segredo", era, no início de 1987, Presidente da República.




Foi nessa altura, a 19 de Janeiro de 1987, que a revista norte-americana "TIME" publicou a reportagem sobre os obscuros negociantes de armas.



Quando tudo isto acontece, o primeiro-ministro social-democrata beneficiava de uma alta popularidade e sabia que se houvesse eleições antecipadas até poderia ganhar a maioria absoluta.
Só que para atingir esse objectivo não podia provocar as ditas eleições e tinha ainda de garantir que, em caso de derrube do governo, o Presidente da República não iria chamar outros partidos para o substituir, inclusive o seu partido socialista...



Enquanto se debatia na Assembleia da República a participação de Portugal no caso "Irangate", houve um pequeno incidente diplomático que acabou por provocar uma muito conveniente moção de censura ao governo do primeiro-ministro social-democrata por parte do PRD, um partido que fora fundado por um militar que tinha sido Presidente da República em 1980.



O primeiro-ministro social-democrata conseguiu ser a "vítima"...
Mas, será que o Presidente da República iria convocar eleições antecipadas ou iria chamar um novo governo?
Acontece que, três dias antes da moção de censura ter sido votada, fora aprovado na Assembleia da República um inquérito parlamentar que iria investigar a participação do então Presidente da República no "Irangate".
Se fossem convocadas eleições antecipadas, o início do inquérito seria automaticamente suspenso... E, de facto, o Presidente da República, num aparente acto democrático desinteressado, convocou as eleições antecipadas que fez com que o parlamento passasse a ser dominado pela primeira maioria social-democrata.
E, desde então, o país tem sido governado por uma alternância entre sociais-democratas e socialistas que partilham os segredos desta altura. Os deputados da esquerda jogam no mesmo xadrêz do jogo político e calaram-se, enquanto os jornalistas, censurados por "critérios jornalísticos" e autocensurados optaram por perderem a memória...



Realmente, porque quis ele eleições antecipadas?



Talvez para impedir um inquérito parlamentar ao negócio do tráfico de armas...





in "Expresso", 4 de Abril de 1987 - um dia depois da dissolução da Assembleia da República.




O inquérito ao antigo primeiro-ministro socialista e então Presidente da República, as notícias sobre os negócio de armas norte-americanas que passaram por Lisboa, tudo isso desapareceu da ordem do dia...
A 19 de Junho de 1987, esta era a capa da "TIME" - Oliver North e os negócios do "Irangate" foram investigados, mas só os factos que datavam desde 1982...
Nunca se chegou ao caso de 1980...



E, nesse mesmo número da "TIME", havia esta noticiazinha sobre Portugal, que estava a caminho das tais eleições que deriam a primeira maioria absoluta ao primeiro-ministro social-democrata, que diga-se de passagem, fora ministro das Finanças de Sá Carneiro. A 4 de Dezembro de 1980, esse ministro esteve presente na última reunião que teve lugar em S. Bento cujo tema era... o orçamento das Forças Armadas...
Será que esse ministro das Finanças teve conhecimento do negócio da venda de armas portuguesas para o Irão?



Mas, afinal, Portugal vendeu ou não armas para o Irão em 1980?
Qual destas duas notícias de Novembro de 1980 estava mais próxima da realidade?




Já depois da publicação dos meu livro, em Dezembro de 2004, e alguns dias depois do actual Presidente da República socialista ter dissolvido a Assembleia da República, para que um recém-eleito secretário-geral socialista pudesse ganhar facilmente a primeira maioria absoluta dos socialistas, e sem que a Imprensa desse muita atenção ao facto, o presidente da VIII Comissão de Inquérito Parlamentar de Camarate - um deputado do partido do anterior ministro da Defesa falecido em Camarate - divulgou um documento a atestar que Portugal vendeu mesmo armas para o Irão no fim de 1980, mais precisamente, um dia após a morte dos governantes em Camarate e no dia seguinte à tomada de posse de Reagan como presidente dos EUA...



A 10 de Dezembro de 2004, o diário português "A Capital" publicou esta manchete. Apesar do jornal dizer logo no início que "parece ser uma teoria da conspiração", a conclusão de que, em finais de 1980, houve mesmo um negócio ilegal de venda de armas de Portugal para o Irão, está patente nas informações concretas e oficiais resultantes da auditoria da Inspecção-Geral de Finanças às contas do Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) do período de 1974 a 1981. Assim, embrulhada timidamente como "teoria da conspiração", a notícia não teve força para poder ser seguida, comentada e até citada no estrangeiro com suficiente força para chegar aos EUA...



E o semanário "Expresso", o mesmo que 24 anos antes publicara esta notícia na primeira página...



... publicou depois este "desmentido" escondido no interior do corpo principal do semanário, sem fazer algo que em jornalismo se chama de "recolocação dos factos", ou seja, explicar a importância que esta notícia teria para a altura em que os factos relacionados com ela tiveram lugar.
É assim que se destrói a memória de um povo... que se rouba a democracia...



Um povo que vai agora ter de votar num homem que recusou há 10 anos, apenas porque agora não há alternativas democráticas, porque ele teve o cuidado de "secar" toda a oposição à sua volta e atingimos desta maneira o fim da nossa democracia.


"Visão" - 12 de Outubro de 1995

O fim da democracia, onde as soluções para o futuro são as passadas, uma vez que não houve espaço para o debate e renovação política.



Onde teremos eventualmente de escolher entre o antigo primeiro-ministro social-democrata ou este antigo Presidente da República e antigo primeiro-ministro socialista...



...ou até mesmo este antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de 1980, antigo candidato a Presidente da República e actual ministro dos Negócios Estrangeiros.



E quando alguém se queixa que os políticos mais novos, aqueles que têm hoje entre com 40 e 50 anos, não apresentam soluções de futuro, só resta lembrar a esses que os primeiros-ministros que se seguiram àqueles dois candidatos a candidatos à Presidência da República, tanto os socialistas como os sociais-democratas, todos eles devem favores a interesses não menos obscuros e pouco democráticos...


in "Expresso", 7 de Maio de 2005


E quando as pessoas que votam querem depois saber o que se passou nas reuniões secretas entre empresários e políticos, então só mesmo, às vezes, num jornal mais corajoso, não alinhado com especiais interesses económicos. Uma publicação que não ostente a indicação de "jornal de referência", pois estes últimos estão ao serviço daqueles que nos roubaram a democracia...


"O Crime", 19 de Maio de 2005



"Focus", 30 de Novembro de 2005

E ainda...







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